Sinopse
Doona é o brinquedo sexual e "companheira" de um garçom de lanchonete solitário, que conversa e cuida da boneca como se fosse uma namorada, com direito a banho de xampú de luxo e passeios noturnos no parque. Em troca, a boneca cumpre a função para a qual foi fabricada: servir como substituta para suprir os desejos sexuais de seu dono. À medida que vai tomando consciência de que está viva e aproveitando a ausência do patrão até a noite, a bela de plástico lança-se em caminhadas exploratórias pelo bairro, descobrindo pessoas e uma existência que jamais imaginou.
Um homem solitário tem uma boneca inflável em casa. É carinhoso, fala com ela, lhe dá banho, fazem amor. Um dia, a boneca ganha vida e sai para o mundo. O que aconteceu? O homem contagiou algum tipo de "doença" para a boneca? Ele lhe deu o ar da vida? Ou talvez adoeceu pelo ar da solidão? Sair para o mundo, andar por ele, pode não significar estar vivo. Ou talvez devemos compreender que o ar da solidão não é inteiramente indesejável quando se olha para o mundo cheio de ternura ou inocência. Lá vai a boneca humana, vestida com saias curtinhas de empregada, perseguindo as criancinhas japonesas (porque esta história acontece no Japão). Crianças com capacetes amarelos andando sobre uma ponte. Existe alguma beleza ali, uma certa beleza triste nos olhos da boneca que olha essas crianças com capacetes. Afinal de contas, talvez a piedade, os olhos inocentes, definem essas belezas. O cineasta Hirokazu Koreeda apresenta Boneca Inflável (Air Doll, 2009), um filme que investiga a condição humana. Porque é assim, essa parece ser a questão fundamental do filme. O que é ser humano? Quem caminha pela rua, é um ser humano? A solidão nos rouba a humanidade? A solidão é um caminho para chegar ao ser humano? E finalmente, o amor e a sua inocência é a única coisa que nos dá alma? Questões complexas, e talvez respostas simples não tão simples. Koreeda, já tinha trabalhado sobre a questão da inocência e a sua perda em Ninguém sabe (2004), filme onde um grupo de crianças tem de enfrentar a destruição das suas pequenas dimensões, a Terra do Nunca, por causa do abandono da mãe. Com Boneca Inflável temos algo de Pinóquio no fundo, mas este Pinóquio é do sexo feminino, o que permite Koreeda explorar a imagem da mulher na sociedade do Japão com uma originalidade nada comum.
Por outro lado, também é interessante abordar Boneca Inflável à luz dos acontecimentos recentes. Já escritores como Ryu Murakami apontavam para uma queda no vazio da sociedade japonesa. O Japão estava perdendo força, segundo alguns críticos. O ideal nacional de reconstrução que surgiu a partir da Segunda Guerra Mundial, começou a minguar. O Japão, de acordo com os analistas, tinha afundado na apatia daqueles que tinham atingido os seus objetivos. Por isso filmes como Boneca Inflável, retratam a crise profunda da alma japonesa do início do século XXI. Agora, após as tragédias recentes, novas questões sobre aqueles olhares. O Japão irá mergulhar numa completa derrota ou pelo contrário, vai encontrar nisso um dos principais motivos para abraçar o futuro? O futuro como forma de vida, o futuro como motor da alma. O futuro como meta comum. Boneca Inflável, anterior à tragédia, é um filme de dispersão, de vazios, de respostas que acordam a imaginação, o amor, a ternura e a inocência. Quantos podem compreender a salvação implícita nessa mensagem? Quantos podem realizar tal ato de heroísmo? Koreeda apresenta esses atos principais, mas também no final, os esvazia. Hoje, teríamos que perguntar para o cineasta, se o novo ar do mundo está repleto de atos de força de vontade que surgem a partir da tragédia.
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